segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Mahamudra
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Mahamudra (sânscrito tib.: Chag Chen; phyag rgya chen po, literalmente: Grande Selo) é uma prática usada no budismo tibetano, especialmente nas principais escolas Kagyu, Sakya, Nyingma e Gelug.
O Mahamudra e o Dzogchen, que são dois nomes para a mesma coisa, são os principais meios para atingir o despertar.
Aquele que tem uma experiência interior profunda do Mahamudra pode adotar estilos de vida muito variados, sem que isto prejudique sua meditação. Mahasiddhas da Índia, como Tilopa e Naropa, tinham uma atividade exterior, ordinária ou estranha, meditando sem interrupção. Milarepa, quanto a ele, escolheu abandonar qualquer atividade temporal para se dedicar exclusivamente à meditação na solidão. Quanto a Gampopa, seu principal discípulo, assim como o primeiro Karmapa, Tüsum Khyenpa, discípulo deste último, optaram pela vida de monge. Todos, apesar da diversidade de seus gêneros de vida, obtiveram a liberação.
A palavra tibetana para Mahamudra é cha-gya-chenpo, cujo sentido profundo aparece na explicação dada a cada uma das partes:
cha, que quer dizer gesto ou símbolo, designa aqui a consciência primordial vazia e significa que o modo de ser da mente, tanto quanto o aspecto manifestado que procede da faculdade criadora, são ambos vazios em essência;
gya, que significa vasto, indica que nada existe além dessa consciência primordial
vazia; quando se realizou o que é a vacuidade, compreende-se que não há nenhum fenômeno do ciclo das existências ou do nirvana (o estado de liberação) que escape a essa vacuidade, nada que esteja além desta consciência vazia;
chenpo, que quer dizer grande, refere-se ao fato dessa realização ser a mais elevada
possível; no Mahamudra são realizados todos os ensinamentos do Buddha, é por isso que o chamamos também de Dzogchen, o que significa grande realização.
Graus de maturidade
De fato, existem dois tipos de Mahamudra, o dos sutras e o dos tantras. Eles se diferenciam ligeiramente do ponto de vista da apresentação e do método de meditação, mas se unem na mesma realização final.
Estritamente falando, o Mahamudra é muito fácil, pois não é nada mais do que o reconhecimento da própria mente e a permanência nesse estado sem distração. Todavia, os seres, segundo suas capacidades efetivas para compreender a natureza da mente, são classificados em três categorias.
Os seres de capacidade superior são aqueles que herdam de vidas passadas uma bagagem espiritual importante: eles se prepararam por meio de um profundo trabalho de purificação e de acumulação de mérito; também cultivaram uma grande familiaridade com a meditação. Naturalmente, têm uma grande fé no dharma e nas Três Jóias, muita compaixão, a faculdade de compreender facilmente o dharma, assim como uma grande diligência.
Os seres de capacidade média, ou seja, aqueles cuja bagagem em vidas passadas é média, têm um certo interesse pelo dharma, mas só podem compreender todas as suas implicações gradualmente e indiretamente. O Mahamudra dos sutras é a via que lhes convêm melhor.
Os seres de capacidade inferior, cuja bagagem é fraca, possuem pouca inteligência espiritual. É muito difícil para eles compreender e colocar em prática as instruções sobre a natureza da mente. É particularmente necessário que eles se preparem, realizando exercícios de purificação e de acumulação.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Quatro Nobres Verdades
As Quatro Nobres Verdades são o cerne doutrinário e prático do Budismo, ou seja, quatro noções básicas que contextualizam os demais ensinamentos e práticas. Desde os primeiros discursos do Buda a seus discípulos, ele apresentou tais noções dessa maneira sistemática como um entendimento fundamental a partir do qual outros ensinamentos mais complexos e específicos podem ser compreendidos.
Todas as escolas do budismo reconhecem e se baseiam nas Quatro Nobres Verdades. Além das diversas explicações e métodos originados a partir delas, os praticantes são diferentes uns dos outros, e desta maneira, existem também diversos níveis de compreensão das Quatro Nobres Verdades.
As citações são :
1ª - A Nobre Verdade do Sofrimento
Nascimento é sofrimento, doença é sofrimento, morte é sofrimento, tristeza, lamentação, dor, pesar e desespero são sofrimento. Não ter o que se deseja é sofrimento, separação do que se deseja é sofrimento, união com o que não se deseja é sofrimento. Saudade é sofrimento, ser escravo de um passado já morto e um futuro inexistente é sofrimento. Ser presa fácil de estímulos exteriores de toda ordem é sofrimento. Quando sopram os ventos da sensibilidade nós vamos cegamente à sensualidade, quando sopram os ventos da raiva nós vamos cegamente à violência, quando sopram os ventos da agitação e preocupação nós vamos cegamente em direção à ansiedade e angústia, quando sopram os ventos da dúvida nós vamos cegamente ao ceticismo.
Todo sofrimento, assim como toda a nossa felicidade está na própria mente, pois nenhum inimigo nos poderá fazer tão infelizes quanto nossa mente mal dirigida. Também nenhum parente, seja pai, mãe ou irmão nos tornará tão felizes quanto nossa própria mente bem dirigida.
Em resumo, os cinco agregados da existência quando objetos de apego, isto é, quando tomados como “eu” e “meu” são sofrimento. Os cinco agregados da existência são: corpo, sensações, percepções, consciência e formações mentais.
2ª - A Nobre Verdade da Causa do Sofrimento
Qual é a causa do sofrimento? é a ignorância, o desejo, o apego, a cobiça, o ódio, e a ilusão. Mas aonde o desejo e a ignorância surgem? aonde estão suas raízes? Aonde houver coisas deliciosas e agradáveis lá o desejo e ignorância surgem, lá eles têm as suas raízes.
Visão, audição, olfato, paladar, tato e a mente são deliciosos e agradáveis lá o desejo e a ignorância surgem, lá eles fincam raízes. Quando percebemos um objeto pela visão, se o objeto é agradável a pessoa é atraída e se é desagradável a pessoa o repele.
Então, seja qual for a sensação que experimente, se a pessoa o aprova e acha agradável então a sensação condiciona o desejo, e desejando a pessoa se apega ao objeto desejado. Então o desejo condiciona o apego. Quando a pessoa se apega ela irá agir pela palavra ou pelo o corpo para possuir o objeto desejado.
Deste modo, então o apego condiciona a ação, Karma, ou processo de vir a ser. O processo de vir a ser (ou existência) condiciona o nascimento.
Dependendo do nascimento, a decadência e a morte, tristeza e lamentação dor e pesar, ressentimento e desespero.
Assim surge essa imensa massa de sofrimento.
3ª - A Nobre Verdade da Extinção da Causa do Sofrimento
O que é a extinção do sofrimento? É a completa erradicação e desaparecimento da ignorância, desejo, apego, cobiça, ódio e ilusão e em conseqüência o abandono e libertação da ilusão do EU e do MEU.
Com a extinção da ignorância o desejo é extinguido.
Pela cessação do desejo cessa-se o apego.
Pela cessação do apego o processo de vir a ser ou as ações (Karma) é extinguido.
Pela cessação de vir a ser ou existência, o nascimento é extinguido.
Pela cessação do nascimento, a decadência e a morte, tristeza e a lamentação, dor pesar, ressentimento e desespero serão extinguidos.
Assim se dá a extinção de toda esta massa de sofrimento.
4ª - Nobre Verdade da Senda que Leva à Extinção do Sofrimento
Os dois extremos e a Senda do meio. Os prazeres sensuais, o comum, o vulgar, o mundano, sem qualquer sentido para o progresso na Senda espiritual. Ou:
A mortificação do corpo que é dolorosa e também sem vantagem qualquer para a vida santa.
Ambos estes extremos, o iluminado evitou e descobriu a Senda Média, a qual propícia qualquer um ver e a compreender, leva à paz, ao discernimento, a iluminação e ao NIBBANA ou NIRVANA
E qual é a Senda do Meio? É a nobre Senda Óctupla:
1) Palavra Correta
2) Ação Correta
3) Meio de Vida Correto
(Moralidade)
4) Esforço Correto
5) Plena Atenção Correta
6) Concentração Correta
(Concentração)
7) Correta Compreensão
8) Correto Pensamento
(Sabedoria)
Livre da dor e tortura é esta Senda, livre de lamentos e sofrimento uma Senda perfeita. Verdadeiramente, como esta Senda não existe outra para a purificação dos seres. Se você seguir está Senda porá fim ao sofrimento. Mas cada um tem que lutar por si próprio, o iluminado apenas aponta o caminho.
1) Palavra Correta
a) Abster-se de mentir e de Caluniar.
b) Abster-se de levar e de trazer conversas que causem desarmonia e discórdia.
c) Abster-se de palavras pesadas, duras e ofensivas.
d) Abster-se de tagarelice e de conversas frívolas.
2) Ação correta
a) Abster-se de destruir os seres vivo, isto é, não matar.
b) Abster-se de pegar para nós aquilo que não nos pertence, isto é, não roubar.
c) Abster-se de errôneo comportamento sexual ( infidelidade, adultério etc.)
d) Abster-se de tóxicos e de bebidas alcoólicas que entorpeçam a mente.
3) Meio de vida correto
Abster-se de profissões como:
a) caçador, pescador, abatedor;
b) comércio de armas e drogas, bebidas, cigarros etc.
O meio de vida deve ser honesto, para o bem comum e nunca prejudicando e explorando nosso semelhante.
4) Esforço Correto
a) O Esforço de evitar o mal.
b) O Esforço de superar o mal.
c) O Esforço de fazer surgir o bem.
d) O Esforço de manter e de desenvolver o bem.
5) Plena Atenção Correta
a) Atenção sobre o corpo
b) Atenção sobre as sensações.
c) Atenção sobre os estados de consciência.
d) Atenção sobre os objetos da mente.
6) Concentração Correta
A concentração é a mente unipolarizada, isto é: mente voltada para um único ponto.
Existem cinco obstáculos para o desenvolvimento da concentração:
I - Sensualidade (luxúria)
II - Raiva, ira, ódio.
III - Sonolência, preguiça e torpor.
IV - Agitação e preocupação.
V - Dúvida
7) Correta Compreensão
a) Compreender as quatros nobres verdades.
b) Compreender as três características da existência.
c) Compreender as ações meritórias e a raiz dessas ações.
d) Compreender as ações demeritórias e a raiz dessas ações.
a) As Quatros Nobres Verdades
O homem comum, desprovido de correta compreensão, é ignorante dos ensinamentos dos homens Santos e não é treinado na nobre doutrina. Seu coração é possuído e dominado pela:
1) Ilusão da existência de um eu;
2) Pela dúvida;
3) Pelo apego e meras regras e rituais;
4) Pelo desejo sensual;
5) Pela raiva.
E como livrar-se destas coisas ele não sabe! Não sabendo o que é digno de considerações e o que é indigno (para libertar-se desses cinco grilhões) ele acaba considerando justamente o que é indigno e não o que é digno.
E pela ignorância ele se preocupa e reflete dessa maneira:
O mundo é eterno ou temporal? Finito ou infinito? O princípio vital é idêntico ao corpo ou alguma coisa diferente? O Buda continuará depois a morte ou não? Eu existi no passado ou não existi numa vida passada? O que eu fui na vida passada? Quem eu fui na vida passada? Eu existirei numa vida futura ou eu não existirei numa vida futura? Eu sou ou eu não sou? O que sou eu? Como sou eu? Este ser, de onde ele veio, para onde vai? "Sábias" Considerações!
O instruído e nobre discípulo entretanto, que sabe os ensinamentos dos homens Santos e é bem treinado na nobre doutrina; compreende o que é digno de consideração e o que é indigno. E assim sabendo, ele considera o digno e não o indigno.
O que é sofrimento, ele sabiamente considera.
O que é a origem do sofrimento, ele sabiamente considera.
O que é a extinção do sofrimento, ele sabiamente considera.
Qual é a Senda que leva a extinção do sofrimento, ele sabiamente considera.
b) As três características da existência são:
1) Impermanência
2) Insatisfatoriedade
3) Impessoalidade
O corpo é impermanente, as sensações, são impermanentes, as percepções são impermanentes, as formas mentais são impermanentes, e as consciências são impermanentes. E tudo o que é impermanente é sujeito ao sofrimento e mudança, não se pode corretamente dizer:
isto pertence a mim,
isto sou eu,
isto é o meu ego.
Assim como a bolha d’água é oca, vazia e insubstanciável, da mesma forma todos os fenômenos psíco-físicos são também ocos, vazios e sem um ego.
c) As ações Meritórias são de três tipos:
1) Pelo corpo, o mesmo que ação correta.
2) Pelo o verbo, o mesmo que Palavra Correta.
3) Pela mente, o mesmo que Pensamento Correto.
Quais são as raízes das Ações Meritórias:
1) Renúncia
2) Desapego
3) Boa vontade
4) Benevolência
5) Generosidade
6) Moralidade
7) Meditação
8) Reverência, gratidão e respeito
9) Serviço inegoísta ao próximo
10) Transferência de mérito
11) Alegrar-se com o sucesso e o mérito de outros.
12) Ouvir o Dhamma (Doutrina)
13) Expor o Dhamma
14) Ter corretos pontos de vista e correta compreensão
15) Gratidão
16) Respeito.
d) As Ações Demeritórias são também de três tipos:
1) Pelo corpo: destruir seres vivos roubar e explorar, adultério, ingerir tóxicos e bebidas alcoólicas.
2) Pelo verbo: mentir e caluniar, levar e trazer conversas, palavras pesadas, duras e ofensivas, tagarelice e conversas frívolas.
3) Pela mente: cobiça-egoísmo, vaidade, má vontade, ódio e raiva, errôneos pontos de vista
As raízes das Ações Demeritórias são:
Cobiça, ódio, ilusão ou ignorância, egoísmo.
8) Pensamento Correto
São todos os pensamentos baseados na renúncia e desapego, tais como:
Boa vontade, benevolência e amor, bondade e camaradagem
Correta compreensão e corretos pontos de vista.
Todo pensamento que for motivado pela Cobiça, Ódio, ilusão e ignorância, egoísmo, vaidade, inveja etc. Serão necessariamente pensamentos incorretos.
Que todos os seres que estejam em sofrimento, possam se libertar do seu sofrimento.
Que todos os seres que estejam inseguros e com medo, possam se libertar de sua insegurança e do seu temor.
Que todos os seres que estejam tristes e em lamento, passam se libertar de sua tristeza e da sua lamentação.
Pela realização dessas afirmações que todos os seres, sem nenhuma exceção, possam se sentir verdadeiramente muito bem e muito felizes.
Gassho
Possa ser esse para o bem de todos os seres.
Quais são as Quatro Nobres Verdades
Dukkha ariya sacca
A primeira verdade nobre é a Dukkha ariya sacca sofrimento , insatisfação, mais precisamente, dukkha, que é uma das três marcas da existência. Ela quer dizer que a mente, tomada pela ignorância, não é capaz de dissociar a insatisfação da experiência sensorial.
Dukkha samudaya ariya sacca
O desejo (pelo prazer sensual, desejo pelo devir, desejo por não-devir) é a origem de dukkha, a segunda nobre verdade. Aqui é apresentado o motivo pelo qual a mente ignorante nunca está plenamente satisfeita: através dos sentidos, entra em contato com sons, aromas, sabores, sensações táteis e idéias, e adquire apego às sensações agradáveis e aversão às desagradáveis. Entretanto, como o mundo está em constante mutação, esse desejo nunca se satisfaz.
Dukkha nirodho ariya sacca
É através da compreensão do processo que causa a insatisfação que o desejo pode ser abandonado e assim alcançar a cessação de dukkha, ou nirvana, a terceira nobre verdade. Se a insatisfação surge porque a mente está constantemente projetando sua felicidade e sua tristeza na experiência sensorial, se esse condicionamento for eliminado é possível alcançar uma satisfação incondicionada.
Dukkha nirodha gamini patipada ariya sacca
A quarta verdade nobre é o caminho que conduz à cessação da insatisfação, ou seja, um conjunto de práticas que permitem reconhecer a verdadeira natureza da mente e sua relação com os sentidos, de forma que a experiência sensorial deixe de ser um aspecto condicionante da felicidade e tristeza, portanto eliminando a insatisfação em sua origem. Esse conjunto de práticas é conhecido como o Nobre Caminho Óctuplo.
Consequências práticas e morais
Frequentemente, pessoas pouco familiarizadas com a cosmovisão budista associam as Quatro Nobres Verdades com uma perspectiva pessimista da vida, por abordá-la sob a perspectiva do sofrimento e insatisfação. Entretanto, uma análise criteriosa revela que de fato é uma concepção extremamente positiva, pois apesar de reconhecer a insatisfatoriedade associada à experiência sensorial (primeira verdade), defende que a causa dessa insatisfação pode ser conhecida (segunda verdade), eliminada (terceira verdade) e propõe uma maneira de se alcançar esse objetivo (quarta verdade).
Essencialmente, essa concepção coloca a moral não como oriunda de uma força, lei ou ser supremo, mas como uma ferramenta útil para desobstruir a mente de seus hábitos insalubres que obstruem a realização desse estado incondicionado.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Quatro_Nobres_Verdades"
OS QUATRO SELOS DO DHARMA
INTRODUÇÃO AO BUDISMO
Uma visão da doutrina budista através dos textos
Este é um trabalho de seleção e ordenação de textos
de vários autores e mestres budistas por
Karma Tenpa Darghye.
Muitas vezes já me perguntaram, "O que é o buddhismo em poucas palavras?’" ou "Qual é a visão ou a filosofia que caracteriza o buddhismo?"
Infelizmente, no Ocidente, o buddhismo parece ter caído no departamento da religião ou, então, no departamento da auto-ajuda; claramente no departamento da meditação, um dos modismos do momento. Eu gostaria aqui de contestar a definição de meditação buddhista.
Para muitos meditação é algo que tem a ver com relaxar, assistir ao pôr-do-sol ou acompanhar as ondas do mar. Idéias atraentes como "soltar-se de todos os problemas" e ficar "livre, leve e solto" vêm à mente. Do ponto de vista do buddhismo, meditação é um pouco mais do que isso.
Primeiramente, acredito ser necessário falar do contexto clássico em que a meditação aparece no buddhismo, o qual é descrito em termos de visão, meditação e ação. Essa é uma forma bastante hábil de compreender o caminho. Ainda que não empreguemos esses termos em nosso cotidiano, sempre temos alguma visão, meditação e ação. Se pretendermos comprar um carro, escolhemos um que imaginamos será um bom carro. A visão nesse caso é essa idéia ou crença. Meditação, então, seria contemplar essa idéia, admirar suas características e familiarizar-se com ela, ao passo que ação é efetivamente sair e comprar o carro dirigi-lo, usá-lo. Isso não é uma coisa necessariamente buddhista; essa conduta está presente a todo tempo, mesmo quando escolhemos um restaurante para ir jantar. Talvez não chamemos isso de visão, meditação e ação, mas, sim, de "ter uma idéia", "contemplá-la" e "realizá-la".
Qual seria, então, a visão com a qual os buddhistas buscam se familiarizar? Há quatro selos que distinguem o buddhismo. Na verdade, se encontramos todas essas quatro visões em uma filosofia ou caminho independentemente de ser chamado de buddhista ou não, já que a designação na realidade não tem importância - esse caminho poderá ser considerado o caminho do Buddha. Por isso são chamados Os Quatro Selos do Dharma.
Esses Quatro Selos são: Tudo que é composto é impermanente.
Todas as emoções são dolorosas. Isso é algo que só os buddhistas dizem.
Muitas religiões veneram sentimentos como o amor e o celebram em suas canções. Os buddhistas pensam que "essas coisas são todas sofrimento".
Os fenômenos são desprovidos de uma natureza dotada de existência intrínseca. Aqui temos a visão última do buddhismo. Os outros três selos, na realidade, se assentam neste terceiro.
O quarto é o nirvana, ele está além dos extremos.
Sem esses quatro selos o caminho buddhista passa a ser teísta, um dogma religioso, e a própria finalidade do buddhismo se perde. Poderia ocorrer uma situação em que uma pessoa louca estivesse dando ensinamentos sobre como ficar sentado numa praia assistindo ao pôr, do sol. Se por acaso esses quatro selos também estivessem presentes, os ensinamentos seriam, necessariamente, buddhistas. Talvez eles desagradem aos tibetanos, chineses ou japoneses, mas não precisam aparecer dentro de um formato tradicional para serem buddhistas.
O Primeiro Selo
Esses Quatro Selos estão também muito interligados, como veremos. O primeiro diz que todas as coisas compostas são impermanentes. Não há um único fenômeno que possamos imaginar que não seja composto e, portanto, não esteja sujeito à impermanência. Podemos aceitar facilmente certos aspectos da impermanência, como a mudança do tempo; há, porém outros aspectos, igualmente óbvios, que não aceitamos. Embora nosso corpo seja visivelmente impermanente, envelheça a cada dia, não queremos aceitar isso. Certas revistas populares que vendem a juventude e a beleza exploram essa atitude. Se pensarmos em termos de visão, meditação e ação, a visão de seus leitores poderia ser concebida em termos de não envelhecer, passar adiante do envelhecimento de algum jeito.
Contemplando essa visão de permanência, a ação desses leitores é freqüentar academias de ginástica, fazer cirurgia plástica e se meter em todo tipo de complicações. Aos seres sublimes isso pareceria ridículo, baseado em uma visão equivocada. Ao olhar para esses diferentes aspectos da impermanência, como o envelhecimento, a morte, a mudança do tempo, etc., os buddhistas têm uma única coisa a declarar - esse primeiro selo: fenômenos são impermanentes porque são compostos. Tudo que é feito de partes reunidas, cedo ou tarde, irão se dispersar.
Quando dizemos "composto", isso inclui o tempo, o espaço e as dimensões. O tempo é composto e, por isso, impermanente. Sem o passado e o futuro, o presente não existe. Se o momento presente se tornasse permanente, não haveria futuro, pois o presente estaria sempre aqui. Tudo que podemos fazer - por exemplo, plantar uma flor ou cantar uma canção - tem um começo, meio e fim. Se enquanto estivéssemos cantando uma canção faltasse o começo, o meio ou o fim, não haveria como cantar a canção, o que faz desse ato algo composto.
Poderíamos, então, nos perguntar, "E daí?" "Por que se preocupar com esse tipo de coisa?" "O que há de tão importante nisso?" "Tem um começo, meio e fim - e daí?" Não é que os buddhistas estejam de fato preocupados com começos, meios e fins. Esse não é o problema aqui. O problema está no fato de que, quando a impermanência está presente, a incerteza e o sofrimento também estão presentes.
Algumas pessoas acham que o buddhismo é pessimista, sempre falando de morte, morrer, impermanência, velhice - mas isso não é necessariamente verdade. A impermanência é um alívio! Eu não tenho uma BMW hoje e é graças à impermanência desse fato que eu posso vir a ter uma amanhã. Sem a impermanência eu ficaria preso à não-posse de uma BMW e nunca poderia vir a ter uma. Eu posso estar me sentindo muito deprimido hoje e, graças à impermanência, amanhã eu posso estar me sentindo ótimo. A impermanência não é necessariamente uma má notícia; tudo depende de como a interpretamos e a compreendemos. Mesmo que hoje nossa BMW seja riscada por um vândalo ou que nosso melhor amigo nos deixe na mão, não vamos ficar tão preocupados assim.
Quando não reconhecemos que toda coisa composta é impermanente, isso é um engano, uma ilusão. Quando compreendemos isso - e não só intelectualmente - ficamos livres desse engano. É a isso que chamamos de liberação: ficar livre da crença unidirecionada e bitolada de que as coisas são permanentes. Mesmo o caminho, o precioso caminho buddhista, também pertence à esfera do composto, quer gostemos disso ou não. Ele tem um começo, tem um fim, tem um meio.
Quando você compreende que todas as coisas compostas são impermanentes e você vive alguma perda, você tem condição de aceitar esse fato. Visto que todas as coisas são impermanentes, esse fato é de se esperar.
Segundo Selo
Todas as emoções são dor. Nós aceitamos que certas emoções, como a raiva ou o ciúme, são dor. Mas o que dizer do amor e do carinho, da bondade e da devoção? O que dizer dessas emoções que são agradáveis, belas, adoráveis? Nós não as encaramos como sendo dor. No entanto, as emoções implicam em dualidade, o que, ao final, cria sofrimento. Emoções como o choro, a dor, a raiva, são na verdade apenas o amadurecimento de emoções mais sutis; surgem no final de um processo. Elas são as menos perigosas e logo se exaurem. A causa é a verdadeira emoção, a mente dualista, e isso inclui quase todos os pensamentos que temos.
Por que isso é dor? Porque é equivocado. Toda mente dualista é uma mente equivocada, uma mente que ignora a natureza das coisas. O que é que se entende por dualidade? De um lado, estamos nós; de outro, nossa experiência. Ela é relativa, pois podemos ver que pessoas diferentes percebem o mesmo objeto de diferentes modos. Um homem pode pensar que uma mulher seja bonita, e para ele isso é verdade. Mas se essa verdade fosse independente, então uma outra pessoa também teria que ver essa mesma mulher como bonita. Essa verdade não é independente; depende da mente de cada um, da projeção de cada um.
A mente dualista cria muitas expectativas, muito medo, muitas esperanças. Onde quer que a mente dualista exista, existe a esperança, existe o medo. A esperança é uma forma perfeita e sistematizada de sofrimento. Com relação ao medo nenhuma explicação é necessária, mas nossa tendência é pensar que a esperança não é sofrimento. Na verdade, porém, é um grande sofrimento e definitivamente é uma fonte de dor.
O Buddha ensinou "conheça o sofrimento". Essa é a Primeira Nobre Verdade. Muitos de nós tomamos erroneamente o sofrimento pelo prazer. O prazer que tenho hoje é, na verdade, a própria causa da dor que vou estar experimento mais cedo ou mais tarde. Uma outra forma que o buddhismo tem de colocar isso é dizer que, quando uma grande dor fica menor, tomamos isso por prazer. Esse é o período que chamamos de felicidade.
Além disso, a emoção é algo que não tem uma existência intrínseca. Quando uma pessoa que está com sede vê água em uma miragem, tem um sentimento de alívio, "Ah, encontrei água!" Porém, à medida que se aproxima, a qualidade e a percepção desaparecem e, por fim, resta a decepção. Esse é um aspecto bastante importante da definição de emoção, segundo o buddhismo: "Algo que não tem nada em sua essência". "Algo que não tem existência autônoma" - isso mesmo, existência autônoma.
Os buddhistas concluem que todas as emoções são sofrimento porque são dualistas, o que quer dizer que estão envoltas em incerteza e vêm acompanhadas de esperança e medo, não tendo, em última análise, qualquer natureza dotada de existência intrínseca. Então, podemos dizer elas não valem a pena tanto assim. Tudo o que criamos por intermédio das emoções, ao final, é completamente fútil e doloroso. Por essa razão os buddhistas fazem meditação shamatha e vipassana. O benefício que isso nos traz é soltar o laço com o qual as emoções nos prendem, soltar a fixação que temos em relação às emoções.
O Terceiro Selo
Todos os fenômenos são desprovidos de existência intrínseca. Aqui estamos falando de shunyata, vacuidade. Quando dizemos todos os fenômenos, isso inclui todas as coisas, até mesmo o Buddha, a iluminação ou o caminho. Os buddhistas definem fenômeno como algo que possui características e que seja um objeto percebido por um sujeito. É a ignorância que toma o objeto como algo externo e faz com que ignoremos a verdade daquele fenômeno. A verdade do fenômeno é o que denominamos shunyata, vacuidade, o que dá a entender que ele não possui uma essência que exista verdadeiramente.
Quando um sujeito enganado vê um objeto, este é interpretado como algo que existe verdadeiramente. No entanto, a existência que o sujeito imputa ao objeto é uma suposição equivocada que aparece apoiada em diferentes condições. Como no caso de alguém que vê uma miragem, a pessoa não tem diante dos olhos uma miragem dotada de existência verdadeira. Ao falar em vacuidade, o Buddha queria dizer que as coisas de fato não existem como equivocadamente acreditamos que elas existam, e que as coisas são, em realidade, vazias dessa existência falsamente imputada.
Por que acreditam no que é, na realidade, apenas projeções confusas, os seres sencientes sofrem, e para corrigir isso o Buddha ensinou o Dharma.
De modo muito simples, podemos nos referir à vacuidade dizendo "a maneira como as coisas aparecem não é como elas realmente são". Como expliquei ao falar sobre as emoções, quando você olha para um fenômeno como se estivesse olhando para uma miragem, ele desaparece à medida que você se aproxima, ainda que no princípio parecesse real.
A vacuidade é, às vezes, denominada dharmakaya e, em um contexto diferente, poderíamos estar descrevendo como o dharmakaya é permanente, imutável, permeia tudo - todas essas palavras poéticas e belas. Essas são palavras místicas que dizem respeito ao caminho. Agora, porém, estamos tratando do terreno, da base, estamos nos esforçando para adquirir uma compreensão intelectual. No caminho é possível retratar o Buddha Vajradhara como um símbolo do dharmakaya ou da vacuidade, mas do ponto de vista acadêmico até mesmo pensar em pintar o dharmakaya é um erro.
Pergunta: Se nós próprios somos dualistas, podemos chegar a compreender a vacuidade, que é algo que está além de qualquer descrição!
Os buddhistas são muito escorregadios. Você tem razão: não podemos nunca falar da vacuidade absoluta, mas podemos falar de uma "imagem" da vacuidade. Então, você pode avaliá-la, contemplá-la e, por fim, chegar à verdadeira vacuidade. E se você dissesse, "Mas isso é facilitar as coisas demais, isso é uma embromação", os buddhistas diriam, "Mas é assim que as coisas funcionam". Se você precisa encontrar alguém com quem nunca tenha estado antes, eu posso descrever essa pessoa para você, mostrar-lhe uma fotografia dela e, com a ajuda dessa imagem, você pode ir e achar a verdadeira pessoa. O caminho, em última instância, é irracional mas, do ponto de vista relativo, é muito racional, pois se casa com as convenções relativas do nosso mundo. Quando estou falando da vacuidade, tudo que estou apresentando é uma "imagem" da vacuidade. Não posso lhe mostrar a verdadeira vacuidade, mas posso lhe contar porque as coisas não são dotadas de existência intrínseca.
O Buddha ensinou três caminhos diferentes em três momentos separados, conhecidos como Os Três Giros da Roda. Porém, ele resumiu esses três caminhos em uma única frase: "Mente; não há mente; a mente é luminosa".
Aqui "Mente" se refere ao "primeiro giro da roda", o primeiro conjunto de ensinamentos. Indica que o Buddha ensinou que há uma "mente", e isso serve para afastar a visão niilista de nenhum céu, nenhum inferno, nenhuma causa e efeito. Quando ele disse, "Não há mente", isso reflete o ponto de vista de que a mente é apenas um conceito e que não existe algo como uma mente dotada de existência verdadeira. A terceira afirmação, "A mente é luminosa," aponta para a natureza búddhica, a sabedoria sem equívocos nem ilusões que existe deste o começo.
Nagarjuna, um grande sábio, disse que a finalidade do primeiro giro foi afastar tudo que é não-virtuoso. Quando a não-virtude aparece? Quando você se torna eternalista ou niilista. Portanto, para pôr fim aos atos e pensamentos não virtuosos, o Buddha fez o primeiro sermão. O segundo giro, no qual o Buddha ensinou sobre a vacuidade, foi apresentado para afastar o apego ao eu, bem como o apego aos fenômenos como verdadeiramente existentes. O terceiro giro destinou-se a afastar todos os pontos de vista, todas as visões, até mesmo a visão da ausência do eu. Os três conjuntos de ensinamentos do Buddha não pretendem introduzir algo de novo; sua finalidade é apenas eliminar a confusão.
Como buddhistas, praticamos compaixão, mas, se nos falta a compreensão deste terceiro selo, a compaixão pode ser um tiro que sai pela culatra. Se você fica apegado à meta da sua compaixão, ao solucionar um problema é possível que você passe por cima do fato de que a sua idéia de solução está inteiramente baseada na sua interpretação, e você pode acabar vítima da esperança e do medo, vítima da decepção. Você pode se tornar um bom praticante do Mahayana e, uma vez, duas vezes, você tenta ajudar os seres sencientes. Mas, porque lhe falta a compreensão deste terceiro selo, pode ser que você fique cansado de ajudar os seres sencientes.
Um outro tipo de problema que também vem da falta de compreensão da vacuidade e que ocorre com buddhistas mais superficiais ou enfastiados, tem a ver com a questão de que, nos círculos buddhistas, se você não aceita a vacuidade, então você não está por dentro. Assim, fingimos que apreciamos a vacuidade e fingimos meditar sobre ela. No entanto, quando não a compreendemos adequadamente, pode surgir um efeito colateral nocivo.
Dizemos, "Ah, tudo é vacuidade. Posso fazer tudo o que eu quiser".
Ignoramos e violamos os detalhes do karma, a responsabilidade sobre nossos atos. Você se torna deselegante e também uma fonte que leva os outros a perder inspiração. Sua Santidade o Dalai Lama muitas vezes faz referência a essa falha que é a não-compreensão da vacuidade. A compreensão correta da vacuidade nos leva a ver como as coisas são inter-relacionadas e como temos responsabilidade por nosso mundo.
Você pode ler milhões de páginas sobre esse assunto. Só de Nagarjuna você pode ler cinco comentários diferentes que tratam basicamente deste tópico.
Há também comentários escritos pelos seguidores de Nagarjuna. Há incontáveis ensinamentos sobre o estabelecimento da visão da vacuidade.
Nos templos ou monastérios Mahayana canta-se o Sutra do Coração do Prajnaparamita, que também é um ensinamento sobre o terceiro selo.
As filosofias ou religiões podem dizer "as coisas são ilusórias", "o mundo é maya, ilusão", mas há sempre uma ou duas coisas que ficam de fora por serem tidas como verdadeiramente existentes - como Deus, a energia cósmica, seja lá o que for. No buddhismo, não é isso que acontece. Tudo no samsara e no nirvana, da cabeça do Buddha até um pedaço de pão, tudo é vacuidade. Não há nada que não esteja incluído na verdade última.
Pergunta: No buddhismo há tanta iconografia que parece ser objeto de meditação ou de adoração. No entanto, seu ensinamento parece me conduzir para a compreensão de que tudo isso é inexistente.
Quando você vai a um templo, vê muitas belas estátuas, cores e símbolos.
Eles são importantes no caminho. Isso é o que chamamos "imagem" da sabedoria, "imagem" da vacuidade. Ainda assim, mesmo enquanto seguimos pelo caminho e aplicamos seus métodos, precisamos saber que o caminho, em última instância, é uma ilusão. O caminho, de modo bastante hábil, coaduna-se com a nossa mente habitual e, ainda assim, tem o potencial de, ao final, despertá-la.
O Quarto Selo
Com a explicação dada sobre a vacuidade acho que de algum modo já descobrimos que o nirvana está além dos extremos. Esse último selo também é um ponto de vista único ao buddhismo. Em muitas filosofias ou religiões a meta final é alguma coisa na qual podemos nos firmar, a qual podemos conservar: "a meta final é a única coisa verdadeira que existe". No buddhismo, porém, a meta não é fabricada; por isso não pode ser guardada. Por isso dizemos: ela está "além dos extremos". Talvez imaginemos que, de algum modo, poderíamos ir para um lugar onde houvesse um sofá melhor, um chuveiro melhor, uma rede de esgotos melhor, algum tipo de nirvana onde você não precisa nem mesmo de controle remoto, onde todas as coisas aparecem no momento em que você pensa nelas. No entanto, como disse antes, nós não introduzimos alguma coisa que não estava presente antes. A meta é alcançada quando removemos o que havia de artificial e obscurecedor. Não ficamos apegados a uma verdade última dotada de existência real, a um nirvana que realmente existe.
Quer você seja um monge ou monja que tenha renunciado à vida mundana, quer seja um yogi que pratique métodos tântricos profundos, quando você busca abandonar ou transformar o apego às suas próprias experiências, se você não tem familiaridade com esses quatro selos você estará encarando suas experiências como manifestação de alguma coisa má, satânica, ruim. Isso quer dizer que você estará longe da verdade. Todo o buddhismo tem por objetivo levar à compreensão da verdade. Se houvesse alguma permanência verdadeira nas coisas compostas, se houvesse prazer verdadeiro nas emoções, o Buddha teria sido o primeiro a recomendá-las, dizendo: "Por favor, guardem e prezem essas coisas", porque o que ele queria, em sua grande compaixão, era que tivéssemos o que é verdadeiro, real.
Quando você tiver uma clara compreensão desses quatro selos como a base da sua prática, você se sentirá confortável, independentemente das experiências que surgirem. Desde que você mantenha esses quatro selos como a sua visão, nada pode sair errado. A pessoa que mantém esses quatro selos no coração ou na mente, a pessoa que os contempla, é buddhista. Ainda que não ostente o rótulo de buddhista, ela será uma seguidora do Buddha.
Dzongsar Jamyang Khyentse Rinpoche
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